NOTA DE PESAR – Profa. Dra. Iris Ferrari


Faleceu em 20/06/2021, aos 90 anos de idade, a Profa. Dra. Iris Ferrari, que dedicou mais de 60 anos da sua longa vida profissional à genética e particularmente à genética médica, em uma carreira marcada pelo pioneirismo.

Natural de Jaú (SP), resolveu fazer Medicina inspirada pelo cientista e professor Renato Migliorini, seu parente, e se formou na primeira turma da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), em 1957. 

Ainda na graduação, interessou-se pela Hematologia, especialidade na qual fez Residência, tendo sido orientada do Professor Cássio Bottura, que havia realizado seu doutorado na Inglaterra e lá conheceu a nascente citogenética. Logo no início da carreira, Dra Iris ganhou destaque ao estar entre os pioneiros na implementação do cariótipo no Brasil, inicialmente a partir do uso dessa técnica para a avaliação de patologias hemotológicas malignas. Junto com o Dr. Bottura, foi co-autora de publicação na prestigiada revista Nature em 1960, o qual propunha um método simplificado para realização do cariótipo, artigo que marcou o início de uma produtiva carreira científica. 

A partir do cariótipo, Dra. Iris foi fazendo a transição da Hematologia para a Genética. No início dos anos 60 (1963 a 1965) fez uma especialização em Genética dos Estados Unidos (Madison), tendo lá trabalhado com o Dr. Patau. No seu retorno atendeu a um convite do Prof. Warwick Kerr e integrou-se ao novo Departamento de Genética da FMRP. Em 1968 defendeu sua tese de doutorado intitulada “Estudo de Aberrações Cromossômicas em Pacientes com Malformações Físicas Múltiplas e Retardo Mental”, e se tornou Livre-Docente em 1970 com tese intitulada “Sensibilidade nos Estágios do Ciclo Celular e Resposta a Doses de Radiação X, de Leucócitos Humanos em Cultura Temporária”.

Em 1971 foi criada a Pós-Graduação em Genética da FMRP-USP, sendo que a primeira dissertação de mestrado desse novo programa foi concluída em 1972, sob a orientação da Dra. Iris Ferrari. Em 1974 a Dra. Iris Ferrari criou o Serviço de Genética Médica do Hospital das Clínicas da FMRP-USP, um modelo que inspirou o estabelecimento de diversos serviços semelhantes em todo o Brasil. Em 1977 a primeira turma de médicos residentes em Genética Clínica iniciou sua formação nesse serviço, novamente uma marca pioneira.

Em 1981 se tornou Professora Titular da FMRP-USP e em 1985-1986 realizou pós-doutorado na Holanda (Leiden). Ela ainda compartilhou seu conhecimento e multiplicou o seu alcance ao orientar mais de 100 alunos em trabalhos de iniciação científica, mestrado e doutorado.

Aposentada por tempo de serviço na FMRP-USP, atendeu a um convite do CNPq para se transferir para Brasília em 1989 para lá criar um setor de genética médica na UNB, iniciando uma nova e produtiva etapa da sua carreira, marcada por diversas contribuições, incluindo a supervisão do atendimento de pacientes no Hospital Universitário de Brasília, na qual esteve engajada até seu falecimento.

Entre as incontáveis homenagens que recebeu, inclusive da SBGM, é significativo que tenha recebido o “Prêmio Cláudia - Ciência” (publicação feminina da Editora Abril) em 2006, que destaca o fato de ter sido também uma das cientistas mulheres que deu grandes contribuições ao país.  

A Dra. Iris Ferrari optou por não casar e não ter filhos, mas deixou um legado enorme pelos mais de 100 mestrandos e doutorandos que orientou, pelas dezenas de médicos que formou nas artes da genética, pelos inúmeros serviços de genética médica que criou ou que inspirou, e pelos milhares de pacientes que, de forma direta ou indireta, foram beneficiados pela sua extensa e intensa atividade. 

Texto: Dr. Roberto Giugliani